Estratégia e Geopolítica da América Latina no Sistema Mundial do Século XXI

  • Miguel Ángel Barrios Instituto do Serviço Exterior da Chancelaria Argentina

Resumo

O século XXI traz novidades geopolíticas de uma magnitude histórica, tais como as abaixo relacionadas.

a) O epicentro geoeconômico do sistema mundial serão os Oceanos Pacífico e Índico, colocando em posição secundária o Oceano Atlântico, que predominou durante os séculos XV, XVI, XVII, XVIII, XIX e parte do XX.
b) O fracasso do intento de impor um sistema unipolar pelo projeto neoconservador dos EUA, e a emergência de um sistema multipolar. Hoje nos encontramos em uma situação de transição apolar.
c) A crise definitiva do Estado nacional clássico diante do surgimento dos Estados continentais industriais como únicos sujeitos reguladores do sistema mundial. Os EUA, a China, a Rússia e a Índia são sua demonstração mais eloquente. A União Europeia torna-se uma interrogação e a América do Sul uma possibilidade.
d) Henry Kissinger, um dos estrategistas mais importantes do século XX, afirma que a relação EUA e China é um elemento essencial para a ordem internacional, e que a perspectiva de paz e a ordem global poderiam depender dela. As duas são menos nacionais no sentido europeu que elucidações continentais de uma identidade cultural. Tal afirmação é a máxima forma do realismo.
e) A crise do capitalismo financeiro mundial surge no centro do poder político global e, no fundo, reflete a necessidade de se reformular para uma nova ordem econômica mundial, em virtude da crise do dólar.
f) O atual funcionamento do sistema capitalista mundial incita quatro crises simultâneas: a crise alimentar, a crise financeira, a crise energética e a crise dos recursos naturais.
g) A necessidade de democratização do regime internacional oriundo da “ordem” mundial bipolar, diáspora da Segunda Guerra Mundial.

h) O fim da ocidentalização da política mundial decorre do surgimento de Estados continentais industriais, que buscam criar um mecanismo de equilíbrio de poderes de variação multipolar.
i) O sistema mundial não pode funcionar sem a interferência do homem. O realismo da Real Politik engendrará uma geopolítica do caos. A assimetria social é um verdadeiro escândalo mundial. O que acabamos de expor, em breves palavras, leva-nos, latinoamericanos, a interrogarmo-nos se é possível que a América Latina possa contribuir para a consolidação de um sistema multipolar. Não somos neutros, o bicentenário é o momento da nossa segunda Independência.
A União de Nações Sul-Americanas (UNASUL) é o embrião possível de transformar o paradigma do Estado continental industrial da América do Sul em Estado continental industrial da América Latina.

Reunimos três pequenos ensaios que constituem um texto único:
1) A Primeira Parte: Pensamento Estratégico (sem possuirmos um claro roteiro estratégico, faremos formulações de curto prazo); 2) A Segunda Parte: O desconhecimento das dimensões componentes da Nação latinoamericana, de nossa origem até a atualidade, torna a UNASUL como algo amorfo; e, 3) Uma geopolítica sul-americana e latino-americana com a face do século XXI, e que tenha como paradigma o Estado continental industrial.

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Biografia do Autor

Miguel Ángel Barrios, Instituto do Serviço Exterior da Chancelaria Argentina

Doutor em Ciência Política e em Educação. Professor do Instituto do Serviço Exterior da Chancelaria Argentina. Autor argentino de várias obras sobre America do Sul, entre elas: Dicionário latino-americano de segurança e geopolítica. Conselho sul-americano de defesa: desafios geopolíticos.

Publicado
2020-11-05
Como Citar
Ángel Barrios, M. (2020). Estratégia e Geopolítica da América Latina no Sistema Mundial do Século XXI. Cadernos De Estudos Estratégicos, (10), 19-68. Recuperado de http://ebrevistas.eb.mil.br/CEE/article/view/6664