A vida de Rosa da Fonseca no Brasil oitocentista
Mobilidade social, literatura e história
Resumo
Certa vez, uma mestranda em antropologia, interessada na pesquisa sobre militares e com dificuldades para recortar seu tema e definir os elementos de sua pesquisa etnográfica, especialmente em relação ao binômio entrevistador/entrevistado, (quem seriam seus informantes, onde seriam realizadas as entrevistas?), recorreu ao renomado antropólogo Celso Castro e, em suas conversas, ouviu dele a seguinte frase, “meu pai é militar, e minha mãe tem muita história pra contar” (2009, p. 93). Para a pesquisadora, iniciante no tema dos militares como objeto de pesquisa, essa foi a chave; estavam assim postos, inicialmente, o seu campo de pesquisa (a família militar) e seu principal informante: a “mulher de militar”. Essa frase é também a chave para este estudo. Se dona Rosa da Fonseca pudesse nos contar histórias de sua vida em família, quais delas contaria? São, certamente, muitas e variadas. Se tivesse tido a oportunidade de escrevê-las ou de deixar uma narrativa a um biógrafo, estaríamos hoje com uma preciosidade em nossas mãos, para homenagear e honrar aquela que, nascida livre, mestiça, filha de pais desconhecidos, percorreu bela e heroica trajetória de superação das dificuldades: de sua origem simples e à margem dos padrões sociais, para uma vida urbana no centro da Corte; das margens e bastidores ao centro da cena, de uma família sem reconhecimento paterno, à constituição de uma família de pessoas que, com nobreza, heroísmo, e até mesmo o sacrifício da própria vida, semearam exemplos e valores que reconhecemos hoje como alicerces da construção da história desta nação.