Instabilidade nos bálcãs: o que esperar de um Kosovo independente

Resumo

Durante séculos, sérvios e albaneses disputaram entre si um território sobre o qual se encontrava a fronteira civilizacional e étnica separando os dois povos. Cada parte procurou criar “representações” para se apropriar da historicidade e da legitimidade exclusiva de Kosovo.Ambos os lados sempre consideraram a sua presença como um fato indiscutível e sagrado. Cada campo beneficiou-se sistematicamente do pleno aval popular para empreender ações violentas contra a parte oposta e para apropriar-se – ou reapropriar-se – do “berço nacional” cobiçado, a partir do sentimento de posse que lhes movia, fosse em relação à civilização islâmico-otomana e à etnia shqipétare para os albaneses, fosse em relação à civilização eslavônico-ortodoxa para os sérvios. A recente proclamação da independência de Kosovo reacende os fortes antagonismos étnico-religiosos existentes nos Bálcãs, ao mesmo tempo em que levanta os riscos da escalada de um novo conflito em pleno coração do continente europeu. Este ensaio apresenta a evolução histórica dos acontecimentos que culminou com a atual crise entre sérvios e albano-kosovares, contribuindo para o surgimento de possíveis focos de instabilidade no quadro geopolítico da Europa e de prováveis reflexos negativos sobre as Nações Unidas.